Apenas dois dias da morte do
arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, o mundo volta seu olhar para admirar,
parece que ainda mais após sua morte, suas obras. Mas, falar de Niemeyer não
falar de Brasília é impossível. Seguindo o fluxo do resto do mundo, o jornal
britânico BBC resolveu analisar essa obra prima do arquiteto brasileiro, porém
de uma maneira diferente. A pergunta que fazem é; Brasília realmente funciona
como cidade?
A arquitetura da capital do Brasil
fez com que ela fosse tombada como Património Mundial da UNESCO em 1987. Mas
isso não quer dizer muita coisa em termos de funcionalidade. A cidade foi
construída a partir do zero, e a ideia de construir uma capital no interior,
ela levar o progresso para o mesmo. Assim, Brasília foi construída exatamente
no centro do país, sem o legado colonial impregnado na antiga capital (Rio de
Janeiro). Seu planejamento foi todo racional, com linhas limpas e amplos
espaços. Seu formato de avião – homenagem a Santos Drumond – foi extremamente
calculado para que os burocratas de Brasília vivessem nas asas, e fossem
trabalhar na fuselagem. "Assombrosamente bela" e "absolutamente
mágico" é como o arquiteto britânico Norman Foster descreve alguns dos
edifícios de Niemeyer em Brasília. "O corpo de uma grande obra de um grande
arquiteto.”
Mas, como é a sensação de viver em
Brasília? "O problema com Brasília como com qualquer coisa nova é que ele
tem alguns pontos fracos", diz Ricky Burdett, professor de Estudos Urbanos
da Escola de Economia de Londres.
"O
problema é que Brasília não é uma cidade. Simples assim. A questão não é se é
uma boa cidade ou uma má cidade. Ela apenas não tem os ingredientes de uma
cidade: Ruas caóticas, pessoas vivendo em edifícios em cima de lojas, e
escritórios próximos ", disse Burdett, "Ela não tem a complexidade de
uma cidade normal. É uma espécie de campus, um grande escritório para o governo
brasileiro", completa Burdett, que era Assessor Chefe de Arquitetura e
Urbanismo para a Olimpíada de Londres 2012.
Enquanto as diversas cidades mundo a
fora possuem bairros mistos, na nossa capital tudo é zoneado. Existe o lugar
onde as pessoas vão trabalhar, e outro onde os embaixadores vão dormir. Segundo
Burdett, isso faz com que não exista uma vida, uma convivência nas ruas. Se
você for para a periferia da cidade, encontrará praças e crianças brincando na
ruas. E parte desse problema, é que a cidade foi projetada para cerca de 500.000
pessoas, mas a cidade passou a deter mais de 2,5 milhões. Os complexos de
apartamentos em que o ‘comunista’ Niemeyer projetou para abrigar ricos e pobres,
hoje abriga apenas ricos. Lucy Jordan, um jornalista que vive em Brasília diz
que a cidade pode ser bem difícil de se viver. Ser pedestre, por exemplo, é uma
árdua tarefa. "Os pobres têm sido desviados para as cidades satélites, que
vão desde cidades adequadas, bem construídas, até cidades que se parecem muito
com favelas. Então, o ideal utópico não funcionou exatamente em Brasília”,
conta Lucy.
Mas, para
Burdett, falar de Brasília, e julgá-la como cidade ainda é muito precoce. "A
maioria dos lugares que todos adoram, desde Cairo até Londres, levaram muitos
mil anos para chegar lá. Dos 2.000, aos 6.000”. e Brasília tem pouco mais de 50
anos de idade. O britânico completa "Não vamos ser cruel. Vamos esperar
mais 200 anos e, em seguida, falar sobre isso."
(Entrevistas: BBC UK)
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