2 de novembro de 2010

Podemos estar sobre uma bomba relógio

O que se fala hoje de guerra cambial é muito diferente do que ocorreu na década de 30.
Naquela época, todos os países desenvolvidos tinham câmbio fixo. Eles podiam mudar a cotação de compra e venda de suas moedas, por pura e simples intervenção de seus Bancos Centrais. Hoje, só existe uma grande economia que faz isso, a China. A China fixou seu câmbio em relação ao Dólar, pois os Estados Unidos é o seu maior mercado.
O mundo vive um grande desequilíbrio que é a relação entre o imenso superávit comercial chinês, e o grande déficit comercial dos Estados Unidos. Como a China tem câmbio fixo esse desequilíbrio não consegue se corrigir com base numa desvalorização do Dólar frente às outras moedas do mundo.
Para diminuir seu déficit comercial, os Estados Unidos estão tentando forçar a desvalorização do Dólar através de aplicações de taxas de juros muito baixas e através da emissão de moeda. Isso afeta, principalmente aqueles países que tem câmbio flexível, como é o caso do Brasil. No entanto, esse fenômeno não afeta apenas a economia brasileira, mas o mundo inteiro que esta se valorizando frente a moeda americana.
Paradoxalmente é uma necessidade para a economia mundial que os americanos acabem com o déficit comercial ou que pelo menos o reduzam, porque se isso não ocorrer, o consumo americano não aumenta. A diminuição do consumo foi uma das causas da crise imobiliária de 2008.
Aqui, para financiar o investimento, dado que o Governo não gera poupança ao contrário ele absorve recurso, o Brasil precisa recorrer a uma fonte externa de financiamento.
Para isso há 3 formas de financiar: Pela poupança privada, que é baixa; pela poupança do Governo, que é negativa e pela poupança externa que é onde o Governo está indo se abastecer.
Por isso, essa busca por capital externo, pois ela é necessária para financiar o déficit em conta corrente.
O fato é que o Governo gasta demais e por isso tem que trabalhar com altas taxas de juros, atraindo assim capital especulativo, sem corrigir o problema.
O que vemos é que o Real não está sendo atacado de maneira nenhuma. O problema são as altas taxas de juros usadas para conter a inflação, e captar recursos para financiar sua dívida.
O cambio brasileiro valorizado é apenas uma conseqüência evidente de uma conta que será cobrada mais adiante.

28 de outubro de 2010

O câmbio e a concorrência

As perspectivas quanto à demanda no varejo para os próximos meses são de crescimento. O aumento da atividade comercial é natural nessa época do ano, pois é quando a indústria começa a atender as encomendas dos clientes para o fim do ano.
Esse ano a indústria brasileira estará competindo ferozmente com os artigos importados, haja vista a valorização do Real nos últimos meses, e por conta disso correrá o risco de terminar o ano com algum estoque.
O Governo tenta segurar a valorização do Real em relação ao Dólar utilizando instrumentos que aumentam a sua volatilidade, e sem muito efeito no médio prazo. Talvez a finalidade seja inserir mais risco aos investimentos estrangeiros, mas esta intenção poderá se transformar numa grande dor de cabeça, já que no Brasil falta capital para melhorar a sua infraestrtura.
O Governo também analisa a possibilidade de criar uma nova tributação, agora, incidindo diretamente sobre as ações. Esse ato poderá baixar a liquidez da bolsa de valores, levando as empresas, que necessitam de capital, ter que adiar seus IPOs e ir para o mercado financeiro tomar dinheiro emprestado. Este efeito aumentará a despesa financeira nos seus balanços, fazendo com que tenham que repassar esse custo para o preço dos produtos e, tornando assim, a concorrência com os importados mais difícil.

25 de outubro de 2010

Previdência sem prudência

A Constituição Federal, de 1988, trouxe para o Brasil um fardo imenso. O Congresso Nacional, há mais de vinte anos, trouxe para dentro da Previdência Social, a previdência Rural. Pessoas que nunca haviam feito nenhuma contribuição, passaram a ter o direito de receber as suas aposentadorias.
Para que possamos melhor entender as conseqüências deste ato, vou discorrer aqui, a partir de informações da Assessoria de Comunicação do Ministério Previdência Social, sobre o que, até hoje, ainda ocorre:
A Previdência Social registrou, em setembro deste ano, o sétimo superávit consecutivo no setor URBANO. O SALDO POSITIVO entre arrecadação e pagamento de benefícios foi de R$ 1,339 bilhão – excluindo o pagamento de sentenças judiciais, a Compensação Previdenciária (Comprev) entre o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e os regimes próprios de Previdência Social (RPPS) de estados e municípios, além da antecipação da primeira parcela do 13º salário e o retroativo do reajuste (7,2%).
Já no acumulado dos nove primeiros meses do ano, o resultado positivo foi de R$ 7,466 bilhões.
Em setembro, a arrecadação líquida URBANA foi de R$ 16,7 bilhões, o segundo maior valor arrecadado pela Previdência Social este ano e o terceiro maior valor na série histórica, desconsiderados os meses de dezembro, nos quais há incremento significativo de arrecadação em virtude do 13º salário.
No setor RURAL, foram arrecadados R$ 411,8 milhões e a despesa com pagamento de benefícios foi de R$ 3,5 bilhões. A diferença entre arrecadação e despesa gerou necessidade de financiamento para o setor RURAL de R$ 3,1 bilhões.
Aparentemente a solução do déficit da previdência irá se estender ainda por muitos anos, pois se some a isso o fato da longevidade crescente de toda população brasileira.

24 de outubro de 2010

Quanto custa um Big Mac

A revista britânica “The Economist” criou em setembro de mil novecentos e oitenta e seis, a partir de uma idéia bem humorada para um indicador econômico, o índice Big Mac, referindo-se ao sanduiche vendido nas lojas da rede fast food de franqueados McDonald's, em todo o mundo.
Esse indicador, tenta trazer uma idéia informal do poder de compra entre os trabalhadores médios dos diversos países, relacionados ao valor das suas moedas.
A forma convencional para se estabelecer a comparação entre as taxas de câmbio entre duas moedas é de que elas devem se ajustar ao mesmo custo de uma mesma cesta de bens e serviços.
No caso do índice Big Mac, essa cesta é reduzida ao sanduiche.
Assim, a taxa de câmbio é calculada dividindo-se o preço de um Big Mac de um país pelo preço do mesmo sanduiche em outro que se quer comparar. Esse resultado é confrontado com a taxa de câmbio oficial.
Se esse número é maior que o oficial, então significa que o primeiro país está com a moeda sobrevalorizada.
Este mês foi publicado o valor do sanduiche em alguns países. Feita a comparação com as taxas de câmbio, o resultado foi a exposição de algumas situações já conhecidas.
Para iniciar, o Big Mac nos Estados Unidos custa três dólares e setenta e um centavos e em média quatro dólares e setenta e nove centavos na comunidade européia. O Euro estaria, portanto, com valorização de vinte e nove por cento.
Na China o Big Mac custa dois Dólares e dezoito centavos, o que significa que o Yuam está desvalorizado em cerca de quarenta e um por cento.
Na Argentina, um Dólar e setenta e oito centavos, desvalorização de cinqüenta e dois por cento
Quando falamos de Brasil, só ficamos atrás da Suíça, em termos de valor de moeda. Um Big Mac aqui custa, na média, cinco Dólares e vinte e cinco centavos, traduzindo uma valorização aproximada de quarenta e dois por cento. Por essa conta a taxa de do Dólar deveria estar hoje em torno de dois Reais e quarenta centavos.
Todos sabem que o índice Big Mac não é um instrumento preciso de medição de valor de moeda, mas alerta para a paridade do poder de compra em um trabalhador brasileiro médio e o seu correspondente suíço, americano, argentino, etc.
O que vemos é que a capacidade de compra de bens e serviços de um brasileiro, hoje, está muito acima do que podemos chamar de índice de desenvolvimento do país. Podemos estar sentados sobre uma bomba relógio!

21 de outubro de 2010

Guerra cambial não, nova ordem mundial

Os países sul americanos estão sentindo o efeito do derretimento do dólar americano e a natural valorização de suas próprias moedas. Com moedas fortes, os países da região estão com dificuldades em exportar e, ao invés, estão importando cada vez mais.
Os industriais brasileiros dizem que a China é inimiga comercial, pois enfrentam concorrência chinesa dentro e fora do Brasil.
No início da década de noventa, oitenta por cento das vendas brasileiras para a China eram de produtos industrializados. Na década seguinte, os manufaturados foram para trinta e um por cento. Hoje, não passam de dezesseis por cento. Os outros oitenta e quatro por cento, que exportamos para a China, são produtos agrícolas e minerais, ou seja, commodities.
Aqui está o alerta: noventa e oito por cento do importado, pelo Brasil, da China são manufaturados.
O saldo comercial entre os dois países ainda é positivo para o Brasil. No ano passado, de janeiro a setembro, o nosso superávit foi de seis bilhões de dólares. Neste ano, no mesmo período, reduzimos para cinco bilhões de dólares.
Paradoxalmente, parece que as importações de bens de consumo, mantêm a inflação interna baixa.
O Brasil e outros governos ficam culpando uns aos outros por distorcer a demanda global com armas que vão desde a impressão de dinheiro para a compra de títulos até intervenção cambial e controle de fluxo de capitais através de taxações.
Caso típico foi o governo brasileiro que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras para investidores estrangeiros, através do IOF sobre investimentos no mercado à vista e também futuro. Em ambos, a taxa sobre aplicações estrangeiras, que era de dois porcento, passou a ser de seis por cento. Também o IOF cobrado sobre a margem de garantia dos investidores estrangeiros em derivativos foi de trinta e oito centésimos por cento, para seis por cento.
Na verdade, esta agitação em torno do câmbio não deveria ser nomeada guerra cambial. Parece mais retórica, pois as medidas até agora adotadas pelos governos, são ainda muito modestas. As responsabilidades por esta questão são compartilhadas entre os países com alto e prolongado déficit fiscal e em conta corrente, bem como por aqueles outros que tem suas moedas desvalorizadas e que acumulam reservas.
No centro de todo isto está a nova ordem econômica mundial. Os Estados Unidos ameaçou impedir a China de comprar os títulos públicos norte-americanos. Se essa promessa se concretizar, a nação asiática buscará uma forma de retaliação, que aí sim poderá levar a uma guerra, como foi no pós-guerra, só que hoje, com outros protagonistas e com outras armas.

19 de outubro de 2010

A logística reversa

O Brasil produz 57 milhões de toneladas de lixo por ano e, só 2,4% desses resíduos sólidos urbanos são reciclados. No mês de agosto deste ano, foi sancionada pelo Presidente da República, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que cria regras para o tratamento do lixo.Uma das novidades da nova política está na logística reversa, que é o retorno à cadeia produtiva daquilo que foi descartado após o consumo, para ser reciclado e reaproveitado novamente como insumo. Há que se considerar, porém, que o retorno desses produtos ao fabricante terá um grande impacto especialmente para a indústria, que terá que fazer investimentos para se adequar ao que determina a nova legislação.
Inicialmente, a logística reversa vai abranger as cadeias de produtos como pilhas e baterias, pneumáticos, eletro-eletrônicos, lâmpadas fluorescentes, óleos e resíduos de agrotóxicos. Porém, com o tempo, todos os produtos devem fazer parte desse processo.