26 de março de 2018

Getúlio Vargas e sua relação com os nazistas


A imigração alemã representou um significativo afluxo populacional para o Brasil, principalmente para a região sul, onde se instalaram e constituíram suas comunidades, nas quais buscaram manter viva sua cultura.
Esse afluxo migratório incentivado pelo governo no período entre o final do século XIX e início do século XX, teve durante o Estado Novo (1937-45), com a implantação do ideal nacionalista do governo de Getúlio Vargas, seu maior revés, pois as comunidades de imigrantes, tidos por inassimiláveis, representavam uma ameaça ao projeto nacionalista de Vargas.
Com o crescimento do partido nazista na Alemanha e a escalada da violência na Europa, as comunidades alemãs no Brasil foram afetadas diretamente pela propaganda do partido nacional socialista, que via nessas comunidades grande potencial para o crescimento de sua ideologia no país, uma vez que aqui existia grande quantidade de alemães, o que contribuiu para o surgimento do “Mito do Perigo Alemão”, amplamente explorado e difundido pela mídia, nos tempos da Segunda Guerra Mundial.
Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, os alemães-brasileiros passaram a sofrer grande repressão do governo, da população “nacional” e da própria mídia, que fomentava e alarmava a população, taxando-os de “inimigos da nação”.
Até 1938 o governo de Getúlio Vargas colaborou com o governo alemão, inclusive com a própria GESTAPO, quando foi acertado treinamento de policiais brasileiros naquele país. Em retribuição, o governo brasileiro entregou aos nazistas comunistas e judeus alemães residentes no Brasil, como Olga Benário, Erna Krüger, Elise e Arthur Ewert. Desta forma, parece que Getúlio estava muito mais próximo de apoiar o Eixo que os Aliados, na grande guerra que se aproximava.

O interesse alemão no Brasil alarmou o governo norte-americano, que buscando manter sua hegemonia comercial com o Brasil, também ampliou seus acordos comerciais, facilitando a entrada de produtos brasileiros em seu país. Portanto, essa situação agradava muito a Getúlio Vargas, que ganhava dos dois lados e aumentava sua capacidade de barganha junto ao governo dos Estados Unidos, que viam no crescimento da participação econômica alemã na economia brasileira, uma grave ameaça a sua hegemonia na região.
As relações entre o Brasil e a Alemanha começaram a ficar tensas somente após a decretação do Estado Novo, particularmente após a Intentona Integralista20, ocorrida em 1938, quando várias medidas governamentais passaram a limitar a livre divulgação dos ideais políticos do nacional-socialismo e a manutenção da homogeneidade cultural teuta no Brasil.
O governo getulista, anteriormente  à  entrada  do  Brasil  na  guerra,      vinha realizando uma política de contenção de grupos pró-nazistas no país. Estes grupos foram monitorados pelo principal instrumento repressor do governo: a polícia. Em 1938, esses grupos tornaram-se ilegais através do decreto nº383, a partir do qual qualquer reunião de alemães  em  clubes  e  agremiações  passou  a  ser  vigiado,  sendo  suspeito  de  atividade  de “quinta-coluna”, passível de forte repressão policial, com grande risco de prisão.
A fim de diminuir a influência e a forte resistência à assimilação por parte das comunidades de imigrantes, o governo, em 1938, criou a Lei da Nacionalização, através do Decreto-lei  nº868, embasado no Decreto Federal nº 406, de 04 de maio de 1938, que forçava a adaptação dos estrangeiros à cultura nacional, o qual seria feita pela aprendizagem e uso exclusivo do idioma nacional, portanto,  exigia que todos os professores fossem naturais do Brasil, exigia que todo o ensino fosse ministrado em língua portuguesa e proibia a circulação de qualquer material em idioma estrangeiro. Com a ilegalidade do uso do idioma alemão, foi destruído o suporte para a preservação da memória e da cultura  nas comunidades teutas. As escolas que não se submeteram a essa lei foram fechadas. O número de escolas fechadas no país após 1938, chegou a 1.060, com um total de 40.585 alunos matriculados.  A partir de 1939 a política de abrasileiramento recrudesceu, tornando a assimilação impositiva.
Outros decretos viriam a restringir o ingresso de novos imigrantes no Brasil, a fim de consolidar o projeto de nacionalização vigente.
Getúlio  Vargas  vinha    a  muito  tempo  realizando  uma  política  “pendular”,  ora mostrava-se mais próximo aos americanos e aos Aliados, ora   mais próximos aos alemães, com os quais mantinha intensa relação comercial. A partir de dezembro de 1941, com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a neutralidade brasileira teve que acabar, o que aconteceu em 1942, quando  o Brasil rompeu relações com o Eixo, em 28 de janeiro de 1942. Em 28 de agosto do mesmo ano, o Brasil declarou guerra ao Eixo, decorrente do torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães, levando o país à guerra ao lado dos Aliados.
A Polícia Política, órgão repressor e fiscalizador de Getúlio Vargas, representado pelo DOPS, tornou-se o verdadeiro elemento de vigilância do Estado Novo. O DOPS possuía amplos poderes e interferia no cotidiano da população, “construindo” a imagem do inimigo político. Os estrangeiros se tornaram um dos seus principais alvos, considerados elementos de “erosão” e “desvios” do projeto étnico e cultural do Estado Varguista, de uma nacionalidade orgânica e homogênea.  O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) fazia a censura prévia e realizava o controle das notícias e qualquer outra informação ou opinião vinculada pelos meios de comunicação.
Imigrantes alemães e italianos que aqui residiam vivenciaram no dia a dia as tensões do conflito. Eram acusados de conspirar em favor do nazi-fascismo e também foram alvos da crítica jornalística, e, por conseguinte, da própria população nacional que se referiam aos ítalo-germânicos como “quinta-coluna”.
O então presidente, Getúlio Vargas, intensificou a perseguição e o controle sobre as comunidades alemãs no Brasil, devido ao receio de qualquer levante do movimento nazista no país, cuja ameaça, com suposto apoio de grupos teutos na Argentina, era tido como um perigo real ao Brasil, o chamado “Mito do Perigo Alemão”. Nesse sentido, várias entidades culturais, esportivas e sociais foram fechadas, tendo suas propriedades e patrimônio transferido para a administração da Liga de Defesa Nacional.
Existiam no Brasil pelo menos 15 emissoras de rádio que transmitiam noticiários em português e alemão, feitos em Berlim. As notícias sempre eram positivas e diziam que a Alemanha estava uma maravilha sob o comando do Führer. A produção industrial crescia, os alimentos abundavam, o perigo semita estava sendo afastado e , em breve, a raça alemã estaria toda reunida.
Ainda em 1938, tanto o partido comunista como o nazista foram proibidos no Brasil. Contudo, antes do decreto de extinção desses partidos começar a valer, Getúlio chamou o embaixador alemão Karl Ritter para uma conversa. Nessa conversa Getúlio teria dito ao embaixador que a medida não era punitiva aos alemães, à Alemanha ou mesmo ao Partido Nazista. A fim de compensar a proibição, o embaixador aceitou a doação de sacas de café para ajudar o Programa para o Auxílio Alemão de Inverno. Vale ressaltar que o governo brasileiro nada fez para reprimir as atividades nazistas até a entrada do Brasil na Guerra , em agosto de 1942, ou seja, mesmo ilegal, o partido nazista continuou funcionando, tanto é, que em abril de 1942, cerca de 2.000 pessoas realizaram uma passeata nazista, com uniforme, à luz do dia, no centro da capital catarinense.
É importante ressaltar que as pretensões do NSDAP (Partido nacional Socialista) no Brasil eram apenas para os alemães e não envolviam qualquer pretensão territorial conforme o mito da ocupação alemã no sul do Brasil. Contudo, vale salientar que a prática propagandística do Partido Nazista no Brasil vinha aumentando sensivelmente, particularmente com  subsídio financeiro e material da Alemanha em escolas alemãs no Brasil, cujo objetivo era a propagação do ideário nazista entre as comunidades teutas, tido por vezes, como ostensivamente subversiva e antibrasileira.
O Brasil, país multiétnico, acolhedor de tantas culturas, segundo maior país no que se refere à imigração alemã, com cerca de 230.000 imigrantes até 1940, teve nas décadas de 1930 e 1940 uma história singular.
Este período no Brasil foi marcado por grandes transformações, das quais a maior, refere-se à esfera política. O Estado Novo de Getúlio Vargas, caracterizada pelo ideal nacionalista, buscou a partir de 1937, criar um pais sem quistos culturais, onde o “ser brasileiro” fosse mais forte, o que de fato não ocorria em grande parte das comunidades alemãs existentes no país, as quais, existiam justamente para manter os laços culturais com a terra mãe, a Alemanha.
A repressão ocorrida contra os alemãe deveu-se a construção do “Mito do Perigo Alemão”, que estava muito distante da realidade, e que encontrou no ideal nacionalista do Estado Novo e nas circunstâncias da Guerra os ingredientes ideais para fortalecer a construção do modelo de inimigo, ao qual, a figura do teuto-brasileiro cabia-lhe perfeitamente, mesmo sem nunca ter representado uma verdadeira ameaça a segurança ou a soberania nacional, como supunha a principal articuladora desse ódio, a própria mídia.
(Fragmentos do trabalho "O Nazismo e a Repressão do Estado Novo aos Teutos-Brasileiros em Curitiba, no Contexto da Segunda Guerra Mundial", Rony Christian Neitzke, 2013).

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