Quando se fala de escravos e da escravatura no Brasil, Zumbi
dos Palmares é uma das maiores referências em heroísmo no assunto.
Apesar disso, historiadores apontam o personagem como
escravocrata. Por mais que estivesse submetido a um senhor, também tinha servos
que eram obrigados a realizar trabalhos forçados e seguir suas ordens
Em vez de meras vítimas, os negros tiveram papel mais
complexo na sociedade colonial, às vezes até com status semelhante ao dos
portugueses.
É claro que, naquele contexto social, ter escravos era visto
com outros olhos, mas ainda assim o historiador Leandro Narloch [Guia
Politicamente Incorreto da História do Brasil (Ed. Leya, 2009)] defende que
Zumbi mais lutou por seus próprios direitos do que pela liberdade de todos os
escravos.
Narloch diz que o objetivo não é desmerecer os negros.
"Pelo contrário, acho que eles podem se orgulhar de que seus antepassados
não eram pobres coitados, mas, em muitos casos, pessoas prósperas, que não
abaixavam a cabeça”.
José de Souza Martins denuncia a mistificação do Quilombo
dos Palmares ao denunciar a existência da escravidão dentro dele: “Os escravos
que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e
convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a
iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão
própria, mas não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos
negros do Brasil praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não
raro capturavam seus iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não
faz muito tempo, os bantos, do mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi,
foram denunciados na ONU por escravizarem pigmeus nos Camarões”. (José de Souza
Martins, Divisões Perigosas, Ed. Civilização Brasileira, Rio, 2007, p. 99).
Nina
Rodrigues esclarece que nos Palmares havia "um governo central despótico"
semelhante aos da África na ocasião”. Não havia liberdade para sair:
“Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se
capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do quilombo”. (Uma história psicossocial dos estudos raciais no Brasil do
final do século XIX).
Zumbi rompeu as pazes e espalhou o terror. Tais eram as
devastações que os quilombolas espalhavam em torno de si que a pedido da
população circunvizinha foram organizadas as expedições armadas das quais
resultou a sua destruição de Palmares.
Décio Freitas, autor do livro Palmares – A Guerra dos
Escravos, em entrevista para a “Folha de S. Paulo”, confessou que depois das
pesquisas, “ele tem hoje uma visão diferente do líder negro Zumbi. ‘Acho que,
se ele tivesse sido menos radical e mais diplomático, como foi seu tio
Ganga-Zumba, teria possivelmente alterado os rumos da escravidão no Brasil.’’ (http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/zumbi_17.htm).
Zumbi não tinha pretensões de libertar os escravos – maior
mercadoria da África – e mantinha os costumes ali vigentes pelos quais algumas
etnias escravizavam os seus inimigos.
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