9 de abril de 2018

Zumbi não tinha pretensões de libertar os escravos


Quando se fala de escravos e da escravatura no Brasil, Zumbi dos Palmares é uma das maiores referências em heroísmo no assunto.

Apesar disso, historiadores apontam o personagem como escravocrata. Por mais que estivesse submetido a um senhor, também tinha servos que eram obrigados a realizar trabalhos forçados e seguir suas ordens

Em vez de meras vítimas, os negros tiveram papel mais complexo na sociedade colonial, às vezes até com status semelhante ao dos portugueses.

É claro que, naquele contexto social, ter escravos era visto com outros olhos, mas ainda assim o historiador Leandro Narloch [Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (Ed. Leya, 2009)] defende que Zumbi mais lutou por seus próprios direitos do que pela liberdade de todos os escravos.
Narloch diz que o objetivo não é desmerecer os negros. "Pelo contrário, acho que eles podem se orgulhar de que seus antepassados não eram pobres coitados, mas, em muitos casos, pessoas prósperas, que não abaixavam a cabeça”.

José de Souza Martins denuncia a mistificação do Quilombo dos Palmares ao denunciar a existência da escravidão dentro dele: “Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raro capturavam seus iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo, os bantos, do mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi, foram denunciados na ONU por escravizarem pigmeus nos Camarões”. (José de Souza Martins, Divisões Perigosas, Ed. Civilização Brasileira, Rio, 2007, p. 99).

Nina Rodrigues esclarece que nos Palmares havia "um governo central despótico" semelhante aos da África na ocasião”. Não havia liberdade para sair: “Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do quilombo”. (Uma história psicossocial dos estudos raciais no Brasil do final do século XIX).

Zumbi rompeu as pazes e espalhou o terror. Tais eram as devastações que os quilombolas espalhavam em torno de si que a pedido da população circunvizinha foram organizadas as expedições armadas das quais resultou a sua destruição de Palmares.

Décio Freitas, autor do livro Palmares – A Guerra dos Escravos, em entrevista para a “Folha de S. Paulo”, confessou que depois das pesquisas, “ele tem hoje uma visão diferente do líder negro Zumbi. ‘Acho que, se ele tivesse sido menos radical e mais diplomático, como foi seu tio Ganga-Zumba, teria possivelmente alterado os rumos da escravidão no Brasil.’’ (http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/zumbi_17.htm).

Zumbi não tinha pretensões de libertar os escravos – maior mercadoria da África – e mantinha os costumes ali vigentes pelos quais algumas etnias escravizavam os seus inimigos.

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