30 de abril de 2018

O dia do trabalho


Em 1886, realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago nos Estados Unidos.

Essa manifestação tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e teve a participação de milhares de pessoas. Nesse dia também teve início uma greve geral nos EUA. No dia 3 de Maio houve um pequeno levante que acabou com uma escaramuça entre a polícia e os manifestantes e com a morte de alguns deles. No dia seguinte, 4 de Maio, uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, tendo terminado com o lançamento de uma bomba por desconhecidos para o meio dos policiais que começavam a dispersar os manifestantes, matando sete policiais. A polícia então abriu fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket.

Três anos mais tarde, no dia 20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu por proposta de Raymond Lavigne convocar anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França foi dispersada pela polícia resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serviu para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.

Em 23 de Abril de 1919 o senado francês ratificou o dia de 8 horas e proclama o dia 1 de Maio desse ano dia feriado. Em 1920 a Rússia adota o 1º de Maio como feriado nacional, e este exemplo é seguido por muitos outros países.

Apesar de até hoje os estadunidenses se negarem a reconhecer essa data como sendo o Dia do Trabalhador, em 1890 a luta dos trabalhadores estadunidenses conseguiu que o Congresso aprovasse que a jornada de trabalho fosse reduzida de 16 para 8 horas diárias.
O dia do Trabalho (Labor Day) nos Estados Unidos é celebrado na primeira segunda-feira de setembro.

Na maioria dos países industrializados, o 1º de maio é o Dia do Trabalho. Comemorada desde o final do século XIX, a data é uma homenagem aos oito líderes trabalhistas norte-americanos que morreram enforcados em Chicago (EUA), em 1886. Eles foram presos e julgados sumariamente por dirigirem manifestações que tiveram início justamente no dia 1º de maio daquele ano.

No Brasil, a data é comemorada desde 1895 e virou feriado nacional em setembro de 1925 por um decreto do presidente Artur Bernardes.

24 de abril de 2018

Este tal de Cabral!

Não há muita informação histórica sobre Pedro Álvares de Gouveia Cabral, o homem festejado como o "descobridor" do Brasil, e sua família.

Cabral nasceu em Belmonte, a 380 km de Lisboa, em 1467 ou 1468 (o ano é incerto), pequena vila de pouco mais de 3.000 habitantes no centro de Portugal, onde estão as ruínas do castelo onde provavelmente nasceu o descobridor.

Nesta vila, onde está o castelo, foram achadas diversas peças do cotidiano dos nobres da família Cabral, coisas como moedas ou objetos de toucador ou culinária.

Esses objetos deram uma pequena pista sobre como viviam esses fidalgos de confiança dos reis portugueses, tanto que um deles, o celebrado Pedro Álvares, foi escolhido para uma missão delicadíssima.

Em 9 de março de 1.500, 13 navios da expedição de Pedro Álvares Cabral deixaram Lisboa, levando 1,5 mil homens. Eram três caravelas (naves menores e ágeis, com até 50 toneladas) e dez naus (com até 250 toneladas e capacidade para 200 pessoas), destinada a iniciar o comércio com a Índia, que havia sido alcançada por via marítima em 1498 por Vasco da Gama.

Cabral foi escolhido para dar seguimento a essa viagem. Sua passagem pelo Brasil foi um incidente de menor importância para os objetivos estratégicos da monarquia portuguesa.

As provas disponíveis não permitem dizer se foi de propósito ou não que a frota cabralina chegou ao Brasil. Há bons argumentos para as duas hipóteses.

A passagem de Cabral pelo Brasil foi descrita na carta de um dos escrivães da frota, Pero Vaz de Caminha. O documento foi enviado a Portugal por um dos navios; Caminha, para seu azar, continuou no caminho da Índia.

Cabral não era marinheiro, era um soldado de capacidades de comando mediana, e, infelizmente para os portugueses, também era um diplomata sofrível.

Sua frota perdeu metade dos navios. E os portugueses deixados na Índia para iniciar o comércio foram mortos pelos indianos, inclusive o pé-frio Caminha. Das 1,5 mil pessoas que embarcaram, apenas 500 voltaram vivas a Portugal em 6 navios.

Cabral nunca mais voltou a ter uma função de igual importância, mas é  celebrado por séculos como descobridor do Brasil, que viria a ser a principal colônia de Portugal depois que os holandeses passaram a ser a potência europeia dominante no oceano Índico.

A causa da morte de Cabral não é muito certa, mas acredita-se que tenha sido de malária, em 1520 – ele estaria com pouco mais de 50 anos.

19 de abril de 2018

O mito Tiradentes


A imagem de um líder revolucionário, mártir da independência do Brasil, uma espécie de Cristo cívico, atribuída a Joaquim José da Silva Xavier por uma tradição historiográfica que teve início no final do século 19 não corresponde à realidade histórica. Tiradentes, de acordo com o que se lê em “Brasil: uma história”, do jornalista Eduardo Bueno, foi apenas o “bode expiatório” da Inconfidência mineira.

Embora a historiografia oficial considere a inconfidência mineira (1789) como uma grande luta para a libertação do Brasil, o historiador inglês Kenneth Maxwell, autor de "A devassa da devassa" (Rio de Janeiro, Terra e Paz, 2ª ed. 1978.), diz que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa", e que objetivava, não a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais.

A revolta, que teve como principal motivo a cobrança de impostos atrasados, envolveu a elite de Vila Rica (atual Ouro Preto – MG), grupo do qual faziam parte intelectuais, religiosos, militares e fazendeiros. Entre eles, o alferes Joaquim José era figura secundária e certamente não teve papel de destaque, exceto a partir do momento em que a revolta foi descoberta e os envolvidos presos.

Esses novos estudos apresentam um Tiradentes bem mudado: sem barba, sem liderança e sem glória. Também, segundo Maxwell, Joaquim José da Silva Xavier não foi senão o "bode expiatório" da conspiração. "Na verdade, o alferes provavelmente nunca esteve plenamente a par dos planos e objetivos mais amplos do movimento." O que é natural acreditar. Como um simples alferes (o equivalente a tenente, hoje) lideraria coronéis, brigadeiros, padres e desembargadores?

A Folha de S. Paulo publicou um artigo (21-04-98) no qual se comentam os estudos do historiador carioca Marcos Antônio Correa. Correa defende que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792. Ele começou a suspeitar disso quando viu uma lista de presença da Assembléia Nacional francesa de 1793, onde constava a assinatura de um tal Joaquim José da Silva Xavier, cujo estudo grafotécnico permitiu concluir que se tratava da assinatura de Tiradentes. Segundo Correa, um ladrão condenado morreu no lugar de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. Testemunhas da morte de Tiradentes se diziam surpresas, porque o executado aparentava ter menos de 45 anos. Sustenta Correa que Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Silva (maçom, amigo dos inconfidentes e um dos juízes da Devassa) e embarcado incógnito para Lisboa em agosto de 1792.

Isso confirma o que havia dito Martim Francisco (irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva): que não fora Tiradentes quem morrera enforcado, mas outra pessoa, e que, após o esquartejamento do cadáver, desapareceram com a cabeça, para que não se pudesse identificar o corpo.

Considerações à parte, o que importa na história da Inconfidência Mineira é que a imagem de Tiradentes, enquanto herói resiste ao tempo. Mas, como a História do Brasil contínua sendo escrita, qual a história que será contada, no futuro, sobre o que está ocorrendo hoje?

17 de abril de 2018

Sambuca, as casas de leilão por um euro na vila mais bonita da Itália


A iniciativa de casas à venda em 1 euro está chegando a Sambuca di Sicilia. Um impulso que visa incentivar o turismo, recuperar o patrimônio urbano e arquitetônico e tentar criar uma barreira ao despovoamento dos centros históricos.
Para encarregar-se da iniciativa da administração municipal de Sambuca di Sicilia nell'Agrigentino que em 2016 conquistou o título de vila mais bonita da Itália. O projeto foi apresentado na manhã de ontem na sede do Turismo Conselheiro Sandro Pappalardo Regional, o prefeito de Sambuca Leo Ciaccio eo vice-prefeito e vereador para o turismo comum, Joseph Cacioppo. Há tempo até 2 de maio para participar do anúncio, leilão base 1 euro, depósito de 5000 euros para garantir a renovação de 17 unidades de construção e compromisso para concluir o trabalho dentro de três anos.
O conselheiro regional de turismo, Sandro Pappalardo, não escondeu a sua satisfação: «O projeto de 1 euro trouxe enormes benefícios, não só do ponto de vista turístico, mas também empresarial, um mecanismo virtuoso que desencadeia o trabalho e o desenvolvimento. As nossas aldeias são uma excelência, das 5 edições nacionais 3 foram conquistadas pela nossa região e este ano ficamos em segundo lugar. A promoção, o aumento do turismo, o recomeço de uma economia estagnada, evitando o despovoamento das aldeias, continuam sendo os objetivos do projeto ".
O prefeito de Sambuca Leo Ciaccio também destacou como os quadros cidade já estão entupidos com pedidos de pessoas interessadas: "Na nossa aldeia já comprou casa vários italianos e estrangeiros - incluindo França, Suíça, lituanos, alemães, britânicos e húngaros ". Até mesmo um gigante turístico como a Airbnb optou por investir em Sambuca di Sicilia, realizando uma casa de artista no Palazzo Pannitteri para o sul da Itália.

Tradução livre: LASICILIA.IT, 12/04/2018

12 de abril de 2018

A bandeira brasileira


A maioria das pessoas aprende que a bandeira de nosso país é formada de verde e amarelo para representar a natureza brasileira. O verde representaria as florestas; o amarelo, as riquezas e o ouro. Apesar disso, a verdadeira escolha das cores não partiu daí.

O conteúdo da bandeira brasileira tinha, na época do Império, outros significados. O retângulo verde, remetia à Casa de Bragança, à qual pertencia Dom Pedro I. O amarelo, era a cor da Casa da Áustria (Haus von Habsburg), da arquiduquesa dona Leopoldina, esposa de dom Pedro I. E o círculo azul era a esfera armilar, também presente na bandeira portuguesa do Império.  Agora, indica nosso céu estrelado.

As mudanças aconteceram quando a bandeira atual foi confeccionada, em 1889 e apareceu quatro dias depois da proclamação da República. Foi instituída no dia 19 de novembro de 1889  pelo decreto número 4, tendo suas cores e suas dimensões também estabelecidas por decreto. Ela herdou os símbolos do estandarte imperial, mas mudou os significados. Também incorporou a frase “Ordem e Progresso”, que foi inspirada em um lema do positivismo, corrente filosófica popular na época.

O positivismo ditava que a ciência era a única forma de progresso para a sociedade moderna. A frase original, cunhada pelo positivista Augusto Comte, era “o amor por princípio, a ordem por baixo e o progresso por cima”.

9 de abril de 2018

Zumbi não tinha pretensões de libertar os escravos


Quando se fala de escravos e da escravatura no Brasil, Zumbi dos Palmares é uma das maiores referências em heroísmo no assunto.

Apesar disso, historiadores apontam o personagem como escravocrata. Por mais que estivesse submetido a um senhor, também tinha servos que eram obrigados a realizar trabalhos forçados e seguir suas ordens

Em vez de meras vítimas, os negros tiveram papel mais complexo na sociedade colonial, às vezes até com status semelhante ao dos portugueses.

É claro que, naquele contexto social, ter escravos era visto com outros olhos, mas ainda assim o historiador Leandro Narloch [Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (Ed. Leya, 2009)] defende que Zumbi mais lutou por seus próprios direitos do que pela liberdade de todos os escravos.
Narloch diz que o objetivo não é desmerecer os negros. "Pelo contrário, acho que eles podem se orgulhar de que seus antepassados não eram pobres coitados, mas, em muitos casos, pessoas prósperas, que não abaixavam a cabeça”.

José de Souza Martins denuncia a mistificação do Quilombo dos Palmares ao denunciar a existência da escravidão dentro dele: “Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raro capturavam seus iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo, os bantos, do mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi, foram denunciados na ONU por escravizarem pigmeus nos Camarões”. (José de Souza Martins, Divisões Perigosas, Ed. Civilização Brasileira, Rio, 2007, p. 99).

Nina Rodrigues esclarece que nos Palmares havia "um governo central despótico" semelhante aos da África na ocasião”. Não havia liberdade para sair: “Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do quilombo”. (Uma história psicossocial dos estudos raciais no Brasil do final do século XIX).

Zumbi rompeu as pazes e espalhou o terror. Tais eram as devastações que os quilombolas espalhavam em torno de si que a pedido da população circunvizinha foram organizadas as expedições armadas das quais resultou a sua destruição de Palmares.

Décio Freitas, autor do livro Palmares – A Guerra dos Escravos, em entrevista para a “Folha de S. Paulo”, confessou que depois das pesquisas, “ele tem hoje uma visão diferente do líder negro Zumbi. ‘Acho que, se ele tivesse sido menos radical e mais diplomático, como foi seu tio Ganga-Zumba, teria possivelmente alterado os rumos da escravidão no Brasil.’’ (http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/zumbi_17.htm).

Zumbi não tinha pretensões de libertar os escravos – maior mercadoria da África – e mantinha os costumes ali vigentes pelos quais algumas etnias escravizavam os seus inimigos.