29 de novembro de 2012

Educação como forma de transformação social


No Brasil, segundo dados do censo nacional divulgados pelo governo federal em 2011, existem 23.973 crianças e adolescentes morando nas ruas de 75 cidades. É muito discutida a qualidade de ensino das escolas publicas, mas essas milhares de crianças sem lar ficam esquecidas. Se a educação é o único caminho para o desenvolvimento, a população deve voltar seu olhar para esses jovens, urgente.
Aprovado no Brasil em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no Art. 4º garante, entre outras coisas, o direito à educação. Somente por esse caminho é que a perspectiva de vida muda. Isso é o que afirma Fernando Gois, 54 anos, e fundador da Chácara Meninos de 4 Pinheiros, localizada em Mandirituba – região metropolitana de Curitiba. A iniciativa que abriga meninos de rua, ou retirados da família pelo conselho tutelar, fundada em outubro de 1993, é reconhecida pela Unesco - pelo Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel - e é uma das mais importantes da América Latina.
Segundo Gois, ex-morador de rua, os meninos que ali vivem – eles têm entre 5 e 18 anos, somando 80 jovens – sonham em crescer na vida através dos estudos. Eles sabem que esse é o caminho. Contudo, as escolas não estão preparadas para essa realidade tão diferente. Fernando, que trabalha a 30 anos na área, afirma que o que falta é preparo dos professores. “Os meninos têm um potencial enorme e querem aprender”, diz.
Rodolfo Monteiro de Sousa, 21 anos, é a prova de que a educação é o caminho para mudar de vida. Com 4 anos de idade, Souza perdeu o pai. Sua mãe, então, começou a beber e negligenciou seus 3 filhos, que passavam fome e encontraram acolhimento nas ruas. Quando tinha 7 anos, uma vizinha denunciou a mãe de Rodolfo para o conselho tutelar. Ele e seus três irmãos foram para um abrigo em Curitiba. O menino passou por 3 instituições quando conseguiu fugir e acabou nas ruas. Foi resgatado, aos 12 anos, e teve que fazer uma escolha. Poderia ir para um regime fechado, ou para a instituição de Fernando, a Chácara Meninos 4 Pinheiros. Escolheu a segunda opção, e chegou no dia 30 de abril de 2003.
Rodolfo conta que dentro da instituição voltou seu olhar para os estudos. Começou aulas de inglês, incentivado por Gois. “Fernando sempre estimulou os meninos a estudarem. Minhas aulas de inglês, só fiz pelo constante estímulo dele”, complementa. Atrasado no colégio, devido ao tempo que passou na rua, Sousa começou a correr atrás do prejuízo. Segundo ele, dentro da escola descobriu seu sonho – queria ser advogado. Hoje, cursa o quarto ano de Direito na universidade Santa Cruz, em Curitiba. Faz estágio na área e mora com seu padrinho, que conheceu na sua “época de rua”, como afirmou o rapaz.
“Falar de educação nunca é demais. As crianças que vivem a realidade das ruas não acreditam em mudanças, não possuem sonhos.
Eu já fui assim. A educação e seu poder de mobilidade social é que permite à essas crianças sonharem. É a chave para uma mudança efetiva de vida. Foi para mim, e é para tantos outros”.

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