
A mentira de que a Ucrânia tem um regime nazifascista —
e que, portanto, é verdadeiro o pretexto de Vladimir Putin de invadir o país
para “desnazificá-lo” — começou a ser inventada em 21 de novembro
de 2013, quando houve o início do que viria a ser chamado de Revolução de
Maidan. Centenas de manifestantes se reuniram na principal praça de Kiev (“Maidan” significa “independência”),
para protestar contra a recusa do então presidente do país, Viktor
Ianoukovytch, de assinar o acordo de associação com a União Europeia, nos
termos que a Geórgia, por exemplo, hoje mantém com o bloco. Viktor
Ianoukovytch cedeu à pressão de Vladimir Putin para não cumprir o
compromisso que havia assumido com os cidadãos, favoráveis à entrada na União
Europeia. O protesto aumentou exponencialmente à medida que o governo usou da
força para tentar conter os protestos. A coisa foi num crescendo, para, em
janeiro de 2014, virar insurreição contra um regime que se submetia à
Rússia, contra os interesses nacionais, privilegiava uma oligarquia corrupta,
havia restringido a liberdade de manifestação, prendido um monte de gente — e
cuja polícia matara três manifestantes. Partidos de oposição tomam o lado dos
manifestantes.
Foi nesse contexto que um pequeno grupo de extrema-direita,
chamado Setor Direita, mostrou a face, promovendo atos violentos contra o
governo, no seio de uma imensa maioria pacífica. A tensão ganhou voltagem e, em
18 de fevereiro de 2014, o governo de Viktor Ianoukovytch decide desocupar
a Praça Maidan, matando 95 manifestantes. No embate, morreram 19
policiais. No dia 21, um acordo entre o presidente e os partidos de
oposição foi assinado, com o aval dos ministros das Relações Exteriores alemão
e polonês, para que as eleições presidenciais fossem antecipadas. O
representante russo, que também estava no grupo de mediação, recusou-se a
colocar o seu jamegão no acordo. Viktor Ianoukovytch fugiu e, dias depois,
apareceu na Rússia, numa entrevista coletiva, dizendo-se vítima de um golpe. O
roteiro de ficção estava escrito para que a Rússia colasse o adjetivo “nazista” na
Ucrânia, propiciando a Vladimir Putin invadir a Crimeia e fazer as suas
porcarias em Donbas, inclusive com o uso de sua força mercenária, a Wagner — fundada
e chefiada por um nazista.
A história da Ucrânia e de todos os imbróglios recentes
envolvendo o país está muito bem contada no livro L’Ukraine: de
l’Indépendance à la Guerre, de Alexandra Goujon, uma professora e palestrante
francesa, especialista em Ucrânia e Belarus. Ela desfaz meticulosamente o
roteiro russo, repetido à exaustão por papagaios brasileiros.
A afirmação de que regime ucraniano é nazista, assim como o
de que a Ucrânia é uma invenção de Lenin (Alexandra Goujon também desnuda tal
falsidade), é uma fake news nascida em Moscou, da cachola de Vladimir
Putin e os seus cúmplices, que usam dessa retórica para invadir um
país pacífico apenas para satisfazer a sua sanha imperialista e reviver os
tempos de glória podre da União Soviética. Quem o repete é papagaio do Kremlin.
Trecho retirado do site: https://www.oantagonista.com/opiniao/a-ucrania-nazista-e-os-papagaios-do-kremlin/
Recomendo, também, que assistam o documentário da Netflix,
intitulado Winter on Fire: Ukraine's Fight for Freedom. O filme tem legendas e áudio
em português.