2 de março de 2022

O roteiro de ficção de Putin

 


A mentira de que a Ucrânia tem um regime nazifascista — e que, portanto, é verdadeiro o pretexto de Vladimir Putin de invadir o país para “desnazificá-lo” — começou a ser inventada em 21 de novembro de 2013, quando houve o início do que viria a ser chamado de Revolução de Maidan. Centenas de manifestantes se reuniram na principal praça de Kiev (“Maidan” significa “independência”), para protestar contra a recusa do então presidente do país, Viktor Ianoukovytch, de assinar o acordo de associação com a União Europeia, nos termos que a Geórgia, por exemplo, hoje mantém com o bloco. Viktor Ianoukovytch cedeu à pressão de Vladimir Putin para não cumprir o compromisso que havia assumido com os cidadãos, favoráveis à entrada na União Europeia. O protesto aumentou exponencialmente à medida que o governo usou da força para tentar conter os protestos. A coisa foi num crescendo, para, em janeiro de 2014, virar insurreição contra um regime que se submetia à Rússia, contra os interesses nacionais, privilegiava uma oligarquia corrupta, havia restringido a liberdade de manifestação, prendido um monte de gente — e cuja polícia matara três manifestantes. Partidos de oposição tomam o lado dos manifestantes.

Foi nesse contexto que um pequeno grupo de extrema-direita, chamado Setor Direita, mostrou a face, promovendo atos violentos contra o governo, no seio de uma imensa maioria pacífica. A tensão ganhou voltagem e, em 18 de fevereiro de 2014, o governo de Viktor Ianoukovytch decide desocupar a Praça Maidan, matando  95 manifestantes. No embate, morreram 19 policiais.  No dia 21, um acordo entre o presidente e os partidos de oposição foi assinado, com o aval dos ministros das Relações Exteriores alemão e polonês, para que as eleições presidenciais fossem antecipadas. O representante russo, que também estava no grupo de mediação, recusou-se a colocar o seu jamegão no acordo. Viktor Ianoukovytch fugiu e, dias depois, apareceu na Rússia, numa entrevista coletiva, dizendo-se vítima de um golpe. O roteiro de ficção estava escrito para que a Rússia colasse o adjetivo “nazista” na Ucrânia, propiciando a Vladimir Putin invadir a Crimeia e fazer as suas porcarias em Donbas, inclusive com o uso de sua força mercenária, a Wagner — fundada e chefiada por um nazista.

A história da Ucrânia e de todos os imbróglios recentes envolvendo o país está muito bem contada no livro L’Ukraine: de l’Indépendance à la Guerre, de Alexandra Goujon, uma professora e palestrante francesa, especialista em Ucrânia e Belarus. Ela desfaz meticulosamente o roteiro russo, repetido à exaustão por papagaios brasileiros.

A afirmação de que regime ucraniano é nazista, assim como o de que a Ucrânia é uma invenção de Lenin (Alexandra Goujon também desnuda tal falsidade), é uma fake news nascida em Moscou, da cachola de Vladimir Putin e os seus cúmplices, que usam dessa retórica para invadir um país pacífico apenas para satisfazer a sua sanha imperialista e reviver os tempos de glória podre da União Soviética. Quem o repete é papagaio do Kremlin.

Trecho retirado do site: https://www.oantagonista.com/opiniao/a-ucrania-nazista-e-os-papagaios-do-kremlin/

Recomendo, também, que assistam o documentário da Netflix, intitulado Winter on Fire: Ukraine's Fight for Freedom. O filme tem legendas e áudio em português.

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