13 de abril de 2024

Reflexões de Um Engenheiro

Duas décadas se passaram desde meu retorno à uma companhia de saneamento. Em 1989, abri mão de uma carreira promissora no serviço público para explorar o mundo corporativo privado. Era jovem e ambicioso, sonhando com novos desafios e aprendizados.

Mas a vida, em suas reviravoltas, felizmente me trouxe de volta ao ponto inicial. Aposentado do mundo corporativo e após ter girado o mundo, decidi voltar à uma companhia de saneamento onde tudo começou, só que agora municipal. Meu objetivo era concluir a carreira como engenheiro, cumprindo um plano que tracei há tanto tempo.

O que encontrei, porém, foi algo completamente diferente do que imaginava. Não era uma empresa, mas sim uma comunidade coesa, com laços que transcendiam o ambiente profissional. O foco aqui não era o saneamento, mas sim o bem-estar das pessoas.

Ao longo da minha carreira nas empresas privadas, sempre me questionei sobre quem era mais importante: o acionista ou os colaboradores. A resposta que obtive em minha última experiência profissional foi frustrante. Uma empresa que prioriza excessivamente as pessoas, sem considerar o resultado do negócio, torna-se tóxica e medíocre.

Vim encerrar minha carreira em uma empresa que achava que o tempo havia mudado a mentalidade dos jovens. Encontrei jovens pouco motivados, sem ambição e que priorizavam interesses pessoais, o parecer ser, em detrimento do trabalho.

Quando saí da companhia estadual de saneamento, meus motivos eram outros. Buscava explorar o mundo, correr riscos e aumentar meus rendimentos. Voltei com uma visão renovada do mundo dos negócios, mas me encontrei em um ambiente arcaico e nepotista, onde a idade e as relações pessoais ditavam as promoções e cargos.

A relação entre os membros da comunidade é tão forte que chega a ser familiar. São comuns namoros e casamentos entre colegas, algo que raramente observei nas empresas privadas, onde a mistura da vida pessoal com a profissional era um assunto delicado.

Tive muita dificuldade em me adaptar a esse ambiente. Enfrentei conflitos pessoais e interpessoais, e hoje me sinto isolado e calado. Apesar disso, continuo me dedicando ao meu trabalho, pois amo ser engenheiro. Sempre esperei por este momento em minha vida profissional, e por isso não desistirei.

Meu objetivo é seguir em frente até o momento em que finalmente possa me retirar e viver o restante da minha vida ao lado da minha esposa, filhas, genros e netos.

Essa experiência me ensinou muito sobre valores e prioridades. Percebi que o equilíbrio entre o resultado e o bem-estar das pessoas é fundamental para o sucesso de uma empresa. Também aprendi que tempo de casa e as relações pessoais não devem ser os únicos critérios para promoções e cargos.

Espero que a empresa prospere e o ser humano floresça, porém, em um ambiente justo e virtuoso.

Mas por enquanto, sigo em frente, com a bagagem dessa experiência singular, grato pela oportunidade de aprender e crescer como profissional e como ser humano.

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