Em seu
artigo Cidade Virtual: Novos Cenários da
Comunicação, o autor Jesus Martín-Barbeiro, filósofo e assessor do
Instituto de Estudos sobre Culturas e Comunicação da Universidade Nacional da
Colômbia, cita o historiador José Luis Romero para falar da questão de
modernização urbana e des-centramento da experiência social. Romero, segundo o
autor, foi o primeiro a pensar nas cidades da América Latina e em
modernizá-las. Essas mudanças seriam no modo de “estar e sentir-se juntos, a
desarticulação das formas tradicionais de coesão e modificação estrutural das
formas de socialidade”, escreve Marín-Barbeiro.
Segundo o
artigo, foi a violência das décadas de 40 a 60 que levou ao êxodo rural,
obrigando as cidades a se reorganizar sem um tempo mínimo necessário para essa
reorganização. Além disso, os camponeses foram para diversas cidades, não
concentrando-se em apenas algumas. Assim, a urbanização terá uma modernização
somente em meados da década de 60. Esse processo responde a três tipos de
dinâmica diferentes. O desejo e pressão de uma vida melhor, a cultura do
consumo e as novas tecnologias comunicacionais. Em todos os três tipos de
dinâmica, o mundo popular e os jovens aparecem como catalizadores.
Diante
dessas mudanças acontecendo, segundo o escritor, a maioria dos adultos resistem
à nova cultura – que coloca como antiquadas grande parte de suas crenças.
Assim, muitos deles culpam os jovens pela decadência de valores morais e
intelectuais. Por outro lado, esses jovens lidam com a tecnologia com destreza
e cumplicidade. É aí que começa o paradigma informacional, como chama Jesus.
Esse
paradigma trata-se de um tráfico uma circulação constante de diversas coisas –
veículos, pessoas, informações. Assim, a verdadeira preocupação dos urbanistas
é essa, a circulação entre os cidadãos. Eles não querem as pessoas reunidas, e
sim conectadas, escreve o autor. Assim, em grandes cidades, explica Jesus, não
se constroem praças, porque para essa sociedade da informação, o que importa é
a velocidade de circulação da informação. Não é difícil de entender a lógica
que o autor defende. A conexão une a descentrilação da cidade moderna. O autor
defende a ideia de que o fluxo das imagens desvaloriza ou até substitui a troca
de experiências interpessoais.
Diante desse
modelo de cidade, os cidadãos são acometidos por uma brutalidade maior do que
aquelas vividas nas ruas inseguras de uma cidade violenta. É o que o autor
chama de “angustia cultural e pauperização psíquica”. Esse descentramento da
cidade causa uma “perda do centro”, uma desvalorização dos lugares que tinham
como função reunir, aglomerar pessoas, como uma praça, por exemplo. O que resta
para os cidadãos da cidade, segundo o texto, são os centros comerciais, que
mudaram totalmente o sentido do encontro entre pessoas. São espetáculos
arquitetônicos, o trabalho e o ócio em um só lugar.
O autor, com
base no livro de Canclini – Culturas da Cidade do México: símbolos coletivos e usos do espaço urbano – fala que
essas novas condições de vida, impostas pelas grandes cidades, exigem uma
reinvenção para os laços sociais e culturais, e são as redes de audiovisual que
cumprem essa reinvenção. A televisão e o rádio fazem a ponte entre o que
acontece na cidade e os cidadãos, e os envolvem aos acontecimentos da urbe. Como
o autor do artigo fala em seu livro A
Cidade: entre meios e modos “se a televisão atrai é porque a rua expulsa, é
dos medos que vivem os meios”.
Assim, fica
claro de que uma cidade informatizada precisa apenas de pessoas
interconectadas, e não reunidas. E o que constitui a eficácia de uma cidade
virtual? A capacidade em que as tecnologias têm em acelerar, ampliar e
embrenhar as tendências estruturais da sociedade, e não o poder dessas
tecnologias. É de casa que os cidadãos participam da vida da cidade.
A
necessidade faz com que surjam formas diferentes de habitar a cidade. Surgem
novas tribos, que não possuem ligações físicas, como nerds ou alternativos
(exemplos citados pelo autor). Estar em casa não significa não participar do
mundo. A nova expressão da existência social se faz diante das câmeras. É o que
Martín-Barbeiro chama de cultura a domicilio.
O artigo,
que foi escrito em 1998, retrata uma realidade da época, de 15 anos atrás.
Contudo, essa realidade não mudou, apenas se concretizou ainda mais com a
inclusão da internet nas relações pessoais.
A violência
das cidades aumentou, as tecnologias se desenvolveram, e cada vez mais as
tribos virtuais se fortalecem. As relações interpessoais passam a depender de
relações virtuais, com as mensagens de celular, internet e principalmente as
famosas redes sociais. Os perfis pessoais nessas redes são uma extensão das
pessoas, tão real como como esses indivíduos físicos.
As grandes
cidades crescem cada vez mais, e descontroladamente. A presença da chamada
conurbação – unificação da malha urbana – só faz com que essas características
descritas no artigo se solidifiquem.
Contudo, não
quer dizer que seja algo negativo. A cidade, acompanhando a tecnologia, vai
evoluindo, forçando essa mudança social. Mudança essa que acontece naturalmente
ao decorrer dos tempos, desde as sociedades mais remotas.